quarta-feira, janeiro 31, 2007

Bloqueios literários I

Tarde e a más horas – como convém, aliás! – digo sim ao desafio do meu caríssimo Everything, quando, em post próprio, me desafiou a revelar os meus bloqueios literários. Como são vastos e gravosos os volumes que não li, faço-o a prestações, para aligeirar o esforço. Aqui vai o primeiro pagamento.

Disse certa vez um intelectual barbudo e personagem blogosférica, a quem por conveniência designo apenas por PP, que lhe dava particular prazer não ler “livros da moda”, desses que toda a gente lê. Levo esta máxima ao exagero, movido pelo prazer altivo de, quando todos citam e recitam, em tertúlia entusiástica, a obra em questão, excluir-me da conversa com um breve e evasivo “Não li!”. Tal fenómeno de moda agrava-se quando, em círculo vicioso, os livros devêm filmes e estes, por sua vez, eternizam o fenómeno de moda dos livros que os geraram.

Assim se passa com o citadíssimo Perfume, bloqueio literário que hoje decido revelar. É sabido que os livros são realidades sensitivas, que exigem o máximo primor das faculdades biológicas e humanas; talvez por isso, de cada vez que me tento pelo Perfume dou por mim constipado. De cada vez que abro a primeira página, antes mesmo da primeira linha, tapa-se o nariz e, com ele, toda a possibilidade de bem sucedida fruição do Perfume… Ora isto sim, é um bloqueio, um duplo bloqueio (literário-gripal) de sintomatologia agravada pelo nome do autor: Süskind… (Santinho!)

Se damos razão a Gide, quando disse que bons sentimentos nunca fazem boa literatura, uma obra intitulada Perfume nunca pode ser famosa – melhor seria uma narrativa hipotética chamada Fedor! Enquanto a não houver, declaro, para escândalo de cafés, esplanadas e salões, o meu nariz literário virgem de tão oloroso perfume, dizendo com orgulhosa ignorância que não sei do que estão a falar. Isto também por incapacidade física: Numa reacção alérgica, o meu nariz fica entupido, as fossas nasais obstruídas e um afrontamento de febre invade-me de cada vez que Süskind (Santinho!) se eleva da bibliografia dita “obrigatória”. Não, não li o Perfume… e Süskind (Santinho!) nem cheirá-lo! Estive para ver o filme, não fosse o súbito ataque de conjuntivite que sofri à porta do cinema…

É a vida!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A Lei da Bola


Prova o registo de passagem dos tempos que a esfera sempre foi padrão de perfeição. Por isso mesmo, desde a invenção da roda à massificação do Donut, da pizza 4 estações ao espaço curvilíneo de Einstein, tem sido circular o nosso percurso de seres perfectíveis. Mas a Lei proclama também que a perenidade dos modelos se alie decisivamente ao ditado das modas – e, actualmente, à margem da circularidade do mundo, descobriu-se na palavra “Avaliação” a panaceia última para todos os males do Universo. O processo de Avaliação seria o alfa e o ómega da felicidade dos povos, pelo que se tornou imperativo o processo de avaliação em todos os cantos e recantos do Globo (aqui está, novamente, a esfera!). Conciliando então a fúria avaliadora com a suma perfeição dos círculos, a instituição onde ensino arranjou um sistema em que, ao final do semestre, umas bolas rotundas e bem desenhadas marcariam uma escala, cuja eloquência esboça as muitas perfeições e imperfeições do périplo docente. Mas…

…Sucedem-se os órgãos dirigentes e, com eles, as Circulares (cá está outra vez a esfera) que reestruturam as práticas institucionais. Depois de alguns anos em que, ao final de cada semestre, os meus alunos marcavam nas bolas a cifra da minha competência, tais práticas ficaram suspensas, para que esféricas cabeças possam deliberar quanto à justeza desse acto. E então a avaliação?

Convicto de que não poderia ficar sem avaliação, convidei então as vítimas do meu ensino a redigirem uma pequena crítica em que reflectissem as queixas a apontar ao trabalho. Entre a diversidade suspeitosa, houve uma que foi constante… Elejo, para a realçar, uma das mensagens de contorno (ai o círculo!) mais expressivo:

…«o professor vem muito inspirado logo de manhã, e isso faz-nos pensar cedo demais. Devíamos começar a pensar só lá para as 10h!»

René Descartes, filósofo bastante rectilíneo, gostaria certamente desta inspiração a hora marcada que aqui me acusam de violar, pelo que vejo este exercício crítico como um esboço de transgressão aos modelos instituídos. É que se a crítica comum visa tirar o sono ao criticado, esta, ao contrário, visa dar sono a quem por ela é visado, instituindo à revelia uma preguiça meditativa e horizontal – plana, portanto.

Não fosse o relógio um mecanismo predominantemente esférico e esta seria, com toda a certeza, uma agressão evidente à circularidade modelar. Porém, verificando-se que o progresso dos minutos se dá numa contagem circular, o argumento cai, redondo, sobre o paradigma anterior. Por isso decidi arrumá-lo-lo neste post rotundo; e contornar a crítica, até ao regresso da lei da bola!

quinta-feira, janeiro 18, 2007

"Faduncho" de Hill Street

Por consulta à página da Polícia de Segurança Pública de S. João da Madeira,

http://www.cm-sjm.pt/462

pude inferir algumas conclusões importantes:

a) 4 em cada 6 polícias usam bigode;
b) Se fosse polícia sería o "Agente Monteiro"
c) Com a sorte que tenho nas cartas seria eu a ficar com o mail do agente tonecas.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Reflexão de tasco: Ser-se maior e vacinado!



Não chega a ser uma expressão, mas podia bem ser um lema. Reclama um estatuto e promove o seu sujeito dizente ao Olimpo da deliberação. Falo da frase corrente: “Sou maior e vacinado!”

Sou MAIOR e VACINADO!

Repare-se que tal frase é uma aglutinação centrada no modus vivendi ocidental e urbano, onde o adulto é uma instituição e a medicina profiláctica uma garantia; onde se instaura a lucidez pela legitimação burocrática de dois documentos – o BI e o boletim de vacinas: sou comprovadamente maior e decididamente vacinado. Mas desenganem-se as mentes simples e sucintas se pensam que a declaração que celebra o ser-se maior e vacinado se basta nestas ténues justificações.

A frase “sou maior e vacinado” enraíza-se perfeitamente na trama epistemológica da modernidade, com Kant a instituir as condições da maioridade e Pasteur a oferecer as garantias da vacinação. Quando digo que sou maior e vacinado, tenho os cabelos brancos de Kant e a idade provecta de Pasteur… Junte-se tudo numa frase e temos um critério hegeliano, dizendo que a noite da filosofia (sou maior) é sempre precedida por um dia de ciência (sou vacinado). Subliminarmente marxistas, invertemos Hegel e compusemos a expressão em toda a sua musicalidade: Sou maior e vacinado…

Sou maior e vacinado!

Esta reflexão de tasco, porém, está longe da segurança e do alento de uma breve frase ventilada ao ouvido. Não. Trata-se de uma preocupação genuína quanto à soberania das actuações e atitudes deste que aqui escreve. É que depois de, em pleno tasco, ter ouvido esta reclamação quezilenta, fui também eu inspeccionar o meu boletim de vacinas…

… Falta-me o reforço do tétano. Claro! Eu já estranhava esta incontrolável vontade de fazer bolas de cuspo, de comer chupa-chupas, de garatujar em vez de escrever, de ligar o cão à tomada…

Porquê? Porque se abusa desta expressão? Porquê? Esta seria a questão a responder, se não fosse já tão tarde e não quisesse ver o Noddy!

sábado, janeiro 06, 2007

Reflexão de Tasco: Incoerências femininas

No quarto, o lado da mulher está discreto, arrumado, asseado; já o lado do homem tem roupa amontoada por todos os lados, em todos os cantos e recantos, como se tivesse acabado de estoirar a bomba atómica…

Na loja de pronto-a-vestir, em época de Saldos, o lado do homem está discreto, arrumado, asseado; já a secção da mulher tem roupa amontoada por todos os lados, em todos os cantos e recantos, como se tivesse acabado de estoirar a bomba atómica…

A injustiça leva a que ela censure, e ralhe e vocifere pela cena doméstica, ignorando olimpicamente o que se passa no domínio público das grandes superfícies comerciais…
Incoerências!!!

(Imagem "Gerrilla Girls", seguindo a sugestão recolhida aqui.)

Deleuze, Cinema e Filosofia

Se percebemos Francês, vamos acompanhando um exercício paciente de criação de conceitos quando, falando de Cinema, Deleuze reflecte sobre a especificidade criativa da Filosofia ; Não se entendendo francês, vamos acompanhando o modo como o real parece capturado pelo olhar cinematograficamente treinado, ora tímido ora insinuante, do filósofo. Para melhor ver este excerto o ideal, então, passa por aprender e desaprender - alternadamente!


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