terça-feira, junho 26, 2007

Shrek 3: um filme a ver e rever!

O desenho, nas suas cores vivazes, enreda-nos na cidade em que, no interior de um quarto, o Burro se dedica a práticas de auto-satisfação, filmando-se a si mesmo com uma handycam. Enquanto isso, Fiona entrega-se desenfreadamente aos prazeres do leito, com Shrek, seu único e exclusivo parceiro. E logo o enredo se nos impõe, sem grandes preâmbulos: Fiona exprime exuberantemente uma fogosidade de embuste já que, pré-orgásmica, nunca teve direito a esse cume glorioso de prazer, numa insatisfação ocultada ao seu parceiro e único amor; o Burro, por seu turno, vai disfarçando o seu desencontro afectivo com o Gato das Botas, no que seria uma relação homossexual monogâmica aparentemente perfeita. Uns e outros, afectiva e/ou sexualmente incompletos, buscam o secretismo glamouroso desse bar, fremente de orgia e de desenfreado erotismo, sito em providencial recato lá no reino de bué-bué longe.

Um olhar apressado poderia ensaiar uma identificação entre o bar e o secreto reinado de perversidade do Marquês de Sade. A terra de Shrek expressaria, se nos fosse permitida tal leitura, a sociedade perfeita na moral viciosa do Marquês, sem leis que subjuguem a primazia natural da satisfação egoísta de entrega de todos perante todos. Porém, só muito lateralmente poderemos ver a procura do orgasmo, por parte de Fiona, ou a abertura do casal Burro-Gato das Botas a outros parceiros sexuais como um prolongamento da problemática sadiana. Mantém-se, todavia, um exercício acessório que leva a perguntar: Que relação entre os afectos e a satisfação sexual que o judeo-cristianismo separou, ajudado pelas forças da norma e do direito, e que um certo domínio transgressivo perpetua numa inversão deliberada? Como entender, contemporaneamente, essa cisão?

Mas desengane-se quem espera ver neste filme uma abordagem pedagógica ou propagandística de um ou de outro dos lados da trincheira que divide, numa mesma lógica moralizadora, os discursos de repressão ou de libertação sexual. É que Shrek 3 é hábil em fechar-nos, com recursos de inegável beleza estética, numa intriga sexualmente explícita, em que as contradições da cultura contemporânea se nos infiltram pelos olhos dentro, vestindo-nos numa condição de puros e simples espectadores não participantes. Os fantasmas culturais libertados pela intensa sexualidade deste filme são placidamente dançarinos, encantatórios e burlescos. Vemos sem identificação e, principalmente, sem voyeurismo. Mas não com impunidade.

Porque Shrek 3, principalmente pela sua abordagem estetizada, recai directamente sobre os discursos dominantes, que mascaram no discorrer da sexualidade a céu aberto a moral vexatória do que continua a desenrolar-se em circuito fechado: na castrada pornografia cibernauta; na objectivada utilização do corpo do outro, alheia à tal estética da existência que o discurso libertador de Foucault promulgou como uma das exigências do tempo. E é de infelicidade – explicitamente expressa (passe, mas pese a redundância) numa sexualidade sem prontuários morais - de que fala a abordagem indolor de Shreck, ainda no sentido de uma separação herdada da tradição.

Para as crianças mais pequenas há sessões dobradas para língua portuguesa.

segunda-feira, junho 18, 2007

O pragmatismo como obstáculo do progresso

Lamentamos a cópia, o plágio, o grande vício da babilónica idade cibernética. Em tempos de progresso e de infinito intercâmbio de informação sem rosto, os alunos abdicam de ter rosto na informação que debitam... E copiam, plagiam, desaparecem de si mesmos no que deveria ser a mais exuberante afirmação de si mesmos. Algo desencantados, diagnosticamos a situação como um vício do tempo, como uma tentação acrescida pela falta de confiança na capacidade própria; e partilhamos a diagnose com o colega, cuja formação científica nos proporcionaria o desassobro da abordagem pragmática, engenhosa na sua engenharia... E ele não desilude:

- “Conto resolver o problema – diz ele, entre dois sorvos de café – tendo em conta o maior benefício para o processo de aprendizagem... A partir deste ano, proibirei os trabalhos dactilografados. A obrigação do manuscrito fará com que, mesmo que copiem, aprendam o que estão a copiar. É que escrever (à mão), lá diziam as nossas avós, é ler duas vezes!”

Eis a demonstração de como nem sempre o pragmatismo e o progresso se conjugam, num tempo em que cada vez mais se avança dando dois passos atrás.

sexta-feira, junho 15, 2007

Ser ou não ser feminista?!

Por serem amplos e elevados os riscos da conjectura, decidi abrir o jogo e, numa atitude civicamente consequente, assumir uma posição.

E assim prometi, na caixa de comentários de um blogue vizinho, que me pronunciaria em post próprio, fundamentado e solidamente defendido, quanto à minha postura face ao feminismo. Acaso cumprisse a promessa, seria então este o espaço em que revelaria, publicamente, uma ou duas ideias que justificassem o meu posicionamento face a tão controverso assunto. Mas prometi em falso!

Ninguém mais saberá se sou ou não feminista, já que a minha namorada não me deixa publicar tal texto.

Como tal, fica o mistério!

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