sexta-feira, novembro 28, 2008

Estados de alma

De cada vez que vejo esta espécie de paquiderme...



...apetece-me juntar-lhe um punhado de réplicas e atirar-lhes uma bola de bowling!

sexta-feira, novembro 21, 2008

Agora sim...temos doutor!


Agora sim...temos doutor!

Que fique descansado o enfermo, que o título a que me referi, não se deve ao moroso estudo de compêndios de medicina, nem sequer ao hábil trautear dos 206 ossos que compõem o corpo humano.

O título de “doutor”, indissociavelmente ligado à arte de praticar medicina, confere ao detentor do prefixo o dom da verdade inquestionável. Poucos são os que se arriscam a questionar um diagnóstico médico e ainda assim, provavelmente cairão no descrédito, já que, qualquer decisão médica, correcta ou incorrecta, será sempre ponderada numa base médico-científica - logo indecifrável para a maioria.

Mas não há bela sem senão! O estudo de um sem fim de maleitas e da sua correcta resolução, carrega sobre o detentor de tal conhecimento, a responsabilidade de agir em conformidade com a situação apresentada. Sem nunca duvidar da capacidade de estudo e da habilidade racional de certos “doutores”, estou certo que o doente morreria à primeira injecção, já que as pontas dos dedos, calejadas de rebater folhas e folhas de informação preciosa para a vida humana, jamais seriam capazes de pregar um prego, quanto mais empurrar com a precisão necessária, o êmbolo com o remédio salvador. Seria constante o impasse moral entre a teoria e prática.

Ainda assim, há que reconhecer o mérito de quem, apesar de não saber mudar uma lâmpada, faz das palavras (pelos vistos, bem) o seu instrumento de trabalho. A tese de doutoramento do autor deste blog, recentemente apresentada perante uma refinada plateia de estudiosos da matéria, teve nota máxima por terras de nuestros hermanos. Infelizmente não pude assistir, porque afinal...alguém tem de trabalhar!

De qualquer forma, a complexidade dos temas abordados não me permite tecer nenhum comentário sobre qualquer tipo de incoerência científica ou imperfeição racional, porque há vários anos que não percebo o que diz ou escreve. Está cheio de verdades que têm tanto de inquestionáveis como de inconsequentes mas que soam bem no ouvido. O que me leva a pensar... Ele sabe!

Mas para quem pensa que não há nada mais complexo e desafiante que elaborar uma tese de doutoramento, desengane-se. Permanecem ainda muitos outros desafios por ultrapassar, igualmente morosos e psicologicamente desgastantes e que podem demorar bem mais do que três anos a tirar. Querem ver? Experimentem tirar a carta de condução!

Oh!... o melhor é deixar isso para quem tem cabeça.

Ficam os meus parabéns!

quinta-feira, novembro 13, 2008

Um elogio???

Depois de um relambório de queixas e de lamentações:

…«Sabe, professor, é que nas suas aulas eu não consigo dormir!»

terça-feira, novembro 11, 2008

Land ho!

A vida imita a arte, que imita coisa nenhuma. E essa coisa nenhuma que, em rigor, todos ambicionamos ser, materializa-se por vezes numa figura narrativa, como se personagens de romance viessem vingar rotinas poeirentas, na magia musical de recantos de nós. É por isso que, nos locais que são nossos, descobrimos no imaginário um “quê” de concreto, que lhe permite soltar âncora e vaguear na imensa possibilidade de mundos impossíveis.

Imagine-se então um local que, em plena zona ribeirinha, indicie desde logo uma experiência de indefinição no nome por que se apresenta: Porto Feio. Na escrita caligráfica, ou numa certa correcção bairrista, há quem leia Porto Frio. Às primeiras terças-feiras de cada mês, o Porto Feio é palco de uma reunião de músicos, amantes da guitarra portuguesa. Assim mesmo, sem letra de fado e sem cantores ao desafio – apenas música, arte cuja propriedade viajante se confirma na postura do dono do estabelecimento, no seu ar de vetusto eremita do mar.

E eis que subitamente, em escalas de guitarra, tomamos o Porto por Nantucket e trocamos Garrett por Melville – e em plena Ribeira desvenda-se um navio baleeiro com baladas de Coimbra. No seu anfitrião, sugere-se a figura ora apagada ora impositiva do capitão Ahab em pessoa. É ele quem, logo à entrada, pergunta quase rispidamente: - “Não são da ASAE, pois não?” – E logo num esgar, parecido com um sorriso: - “…então podem entrar!”

As cadeiras dispõem-se circularmente, numa espécie de oval que possa permitir circulação. Bebe-se sangria ou cerveja. Ao centro, guitarras que se dedilham sem disciplina, sem espectáculo que não seja aquele que cada uma retire de si mesma. Não sabemos se num gole de guitarra ou numa nota de sangria, o cenário transporta-nos para uma espécie de mesa de convívio com uma profusão de fantasmas de muitos tempos, reunidos no local certo para expiar o vento frio (ou feio) da dura realidade. E por isso o capitão Ahab abre-nos a porta para o percurso de Orfeu, com recursos de Dionísio, dizendo-nos que se há cidades que se dizem em guitarra, há sempre possibilidade de viver uma cidade como se trouxesse uma guitarra dentro – ou uma personagem de romance: o capitão Ahab.

E descobrimos então que este dedilhar quase secreto, quase clandestino para o bom-senso da urbe, é afinal parte da sua respiração húmida – e vive-se como um segredo a mais, guardado pela figura extrema do capitão Ahab.

É o próprio comandante do baleeiro que me abre a porta, num boa-noite dito entre dentes, quando o relógio me diz que são horas de ir embora. Parto de Nantucket e reclamo, na recordação imaterial da guitarra, um regresso ao Porto de origem.

Enquanto me retiro, o grupo disposto em oval continua a dedilhar. Tenho a sensação de que se o desenho cartográfico fosse visível desde o Google Earth, veríamos a silhueta de uma guitarra portuguesa, misteriosamente repousante na margem do Douro. Uma guitarra à vela, plácida e serena, como um barco rabelo nas linhas imaginárias que desenham a zona histórica do Porto. Uma geografia que se abandona assim que a manhã renasce, como se a cidade se reapropriasse do fundo musical que a desmaterializou.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Por falar nisso…

Acaba de sair, sob chancela da Afrontamento. Resulta de uma mesa-redonda que teve lugar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e é coordenado pelos Professores Vítor Oliveira Jorge e José Costa Macedo.

Tem 452 páginas e conta com a participação de 36 autores, entre os quais o escriba deste blogue, na sua assinatura de baptismo. Com textos excelentes (juízo do qual, como é óbvio, excluo o meu próprio contributo), conta também com a bela fotografia da capa, de Joaquim Hierro.

Fica bem em qualquer estante, da Moviflor ao Ikea!

Atirar a primeira pedra?

Chama-se Sarah Maple. É muçulmana e inglesa, dupla pertença, de culto e de nacionalidade, que assume totalmente. Vive como que atravessada por um preceito plural, a que dá uma resposta artística evidente: tem uma educação ocidental e é “espiritualmente muçulmana”, pelo que se lê como que atravessada por imperativos aparentemente contraditórios. Reclama corpo e sensualidade no limite do seu véu, sem abdicar de uma e sem renunciar ao outro. Nessa contradição vive o âmago da sua provocação, e quando recebe ameaças e manifestações de ódio, quando a galeria londrina onde expõe é apedrejada, reage apenas perguntando se será pior muçulmana por viver “como uma pessoa normal”.

As organizações muçulmanas reagem de modo mais brando do que os particulares. Dizem apenas que Sarah é ofensiva, que explora o escândalo como estratégia comercial – e lamentam as manifestações de ódio, defendendo a liberdade de expressão.

Entretanto, apressam-se jornais e jornalistas nas vagas ou declaradas acusações de “fanatismo”, “intolerância” e “intransigência”, despertando o fantasma do “inimigo muçulmano”. Lembram implosões de budas milenares e explosões de torres gémeas – não sem razões de lamento, mas não tantas nem tão absolvidas quanto consideram as suas condescendentes almas.

Talvez não soubéssemos o que pensar quando, não há muitos anos, um filme de Oshima despertou a ira persecutória do Bispo de Braga e de uma horda de fiéis, como não sabemos hoje como responder ao escândalo vigilante dos seguidores de Maomé. Sabemos, porém, que a necessidade de leitura e interpretação impede –essa sim, com fúria censória– de definir os papéis de “bom cristão” de “bom muçulmano” ou de “bom taoista”; e que essa mesma necessidade gera nomadismos, recusas, posicionamentos que não deixam de reescrever o significado da espiritualidade no hoje dos dias de hoje.

E sabemos que a ultrapassagem das identidades monolíticas, reafirmada no sempre provocador acontecer artístico, vai impedir igualmente a ilusão de regenerada superioridade, de quem, na proximidade do argumento evangélico, mais facilmente vê o argueiro nos olhos dos outros do que uma trave na sua própria vista; e por isso declara, em inocente singeleza mental, que há apenas dois lados, em que o correcto invariavelmente se posiciona na perigosa e lúbrica zona do seu próprio umbigo.

Perguntem às seguidoras de Fátima, principalmente se deslocalizadas, num chão cultural que nunca lhes pertenceu.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Por mais que se tente alcançar uma certa frieza, na cansada mania desmancha-prazeres de se pôr água na fervura, qualquer coisa teima em celebrar. E – bolas! – há que dar largas ao festejo, perder o controlo e a maturidade num instante que pede celebração juvenil.

Há 8 anos atrás, uma desarmante perversão democrática permitiu que uma anedota de mau gosto governasse os destinos da única verdadeira potência mundial. Escreveu-se história com erros de ortografia, numa incompreensível e crescente tolerância para com a estupidez e a imbecilidade – uma espécie de vírus em forma de gente ganhava dimensão histórica e desproporcionada relevância política.

Hoje, na altura em que escrevo, a eleição do primeiro Presidente negro dos EUA é ainda uma incógnita, se bem que cada vez mais uma incógnita previsível. E independentemente da cor da pele (mas também com ela), das dificuldades que se afiguram ou dos resultados de um acumulado de retrocessos anteriores, é bom apreciar uma certa capacidade regeneradora da história, de um certo “princípio esperança” quando cada vez mais custa a crer… ou a celebrar. Celebre-se, pois, mesmo que sem champanhe, que é longínquo o sucesso e magra a carteira, mas é bom perder a prudência, a contenção e a reserva.

E é com imaturidade, delícia reservada aos ingénuos, que celebramos, hoje, a vitória de Barack Obama na eleição dos próximos quatro anos de mundo!

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