sexta-feira, maio 12, 2006

Retoma

Amarga-se o café na boca e os calafrios vão percorrendo o corpo desgovernado. Os dias anteriores, lentos e trabalhosos, denunciavam a nova condição, a cada esquina e a cada passo. Na distracção ritmada dos percursos e dos discursos, lá saia, de si para si, a frase involuntária: - Isto dava um post! Mas mesmo os dias mais quentes de Maio conseguem ser pródigos em baldes de água fria, enregelando e tolhendo os costados da alma: - Não. Já não há blogue… Mataste-o, lembras-te?... Seu assassino cibernético, giga-genocida, blogo-carniceiro… Nojo!

Mesmo assim, a consciência vai amansando com o álibi das obrigações, do tempo que escasseia, do magro consolo dos comentários e das passagens furtivas em páginas alheias. Frágil mordaça a calar a dependência; azeda consolação!

Em desespero de causa, há a uma bóia de racionalidade insuflada por fria estatística. É que, como é sabido, os blogues entram pelos ofícios acima deitando rendimentos abaixo. Há sempre este argumento, comprovado pela imaginação sorridente de um funcionário de balcão ou de escritório, alheio à imensa turba que o solicita ou à pilha de papéis que o vigia, disfarçando a ociosa tarefa numa despersonalização aflitiva: nega a dedicação às gajas, mascara o ar “boemium” ou o fino paladar de “gourmet”, oculta o ar matreiro com que se abstém de trabalhar para… andar pelos blogues. Cenário a evitar, mesmo que seja o mais memorioso fado do trabalhador português. É que o país precisa de formigas trabalhadoras, que sabem que a sua luta não passa por qualquer blogue que seja seu, tampouco por pratos preguiçosos de caracóis em marinas, mas sim por um escaldado e ardente sentido de responsabilidade – quanto mais quente, melhor!

Calem-se, por isso, todas as vocações brolguistas (que até se me confunde a ortografia neste apelo!), confirmando-se que o blogue está morto, enterrado, abafado em terra e comido por torrões e lama. Há que devolver ao lodo esse passatempo maldito!

Mas mesmo a terra mais funérea tem interrupções, húmus, bolsas impensadas de ar que fazem com que, a qualquer momento, a hipótese rebelde se adiante:

E se da terra saísse um braço e atirasse uma rosa para o espaço?

Interrupção decisiva, ressuscitada e brandida como rosa no espaço… Uma vez mais, mesmo sem querer, Interrupções!

12 Comments:

Blogger Fabiana said...

OH! VIVA! URRA! URRA! VIVA!

5:25 da tarde  
Blogger salomé said...

Mas ainda bem que existem formigas que, no carreiro, andam em sentido contrário.

7:15 da tarde  
Blogger DomingonoMundo said...

Fabi,

Já pensei nos livros... Depois envio as sugestões.

7:42 da tarde  
Blogger Fabiana said...

BOA! :)

1:22 da manhã  
Blogger feniana said...

estou comovida, querido domingo no mundo!

ainda bem que espreitei! ainda bem.

é muito bom ter-te por perto. que é como quem diz, ter uma rua aberta até às tuas palavras.

e agora, vou ver se há milagre e se a querida candy também atira rosas...

10:08 da manhã  
Blogger lector said...

Ora aí está: apanhaste juízo; ou perdeste-o de vez? Seja o que seja, ainda bem!

6:41 da tarde  
Blogger rps said...

Óptimo!

7:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bom dia!
...excelente notícia neste Domingo tristonho e sem sol!... pelo menos alguma luz!
Bjico grande!

2:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

De volta e em grande!
Tinha saudades!

5:48 da tarde  
Blogger Elentári said...

Que alívio!

7:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

...pronto, tudo bem... vá, toma lá: Oba! Estimo o teu regresso ao activo.
Só por causa dessa, deverias pagar não um copo mas sim uma garrafa de Johnnie Walker, Black label.
Não, não que me esqueci!

11:49 da tarde  
Blogger redonda said...

E não ficou nada do blog assassinado?

7:57 da tarde  

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