έζαίφνης
Prof Doutor Miguel Baptista Pereira (1929-2007)
O ressoar dessa palavra grega, surgiu-me ao caminho quando hoje, quarta-feira, pelas 8 horas da manhã (hora exacta em que se iniciava a aula do “Doutor Miguel”), me noticiavam o desaparecimento desse mestre excessivo, desse génio impositivo de quem tive a sorte de ter sido aluno. Como modulação deste mesmo momento-pleno, como lembrou frequentemente Miguel Baptista Pereira, pensar(Denken) é também agradecer(Danken), numa dívida profunda para com aqueles cuja marca se pressente ainda no ensino de tantos outros. A última vez que o vi, em plena estação de Campanhã, foi esse mesmo assunto que evoquei, sem desconfiar que o seu aceno de assentimento era também o último que me endereçava em vida.
Marca inexorável do mistério do Ser, a morte é traumatismo profundo perante o qual todo o discurso emudece, ainda que refloresça como dádiva e esperança. Mudo, pois, ainda que reavivado pelo momento pleno em que a sua lição ressoou, sentimos hoje a morte de Miguel Baptista Pereira como assombrosa vertigem, instalada no interior do homem como intérprete nos caminhos do Ser.
Analisar o percurso de um professor é, inevitavelmente, rememorar o poder com que a sua voz, erguida de um canto passado, ressoa ainda nos corredores de um tempo indeterminado em que nos vamos vivendo e reconstruindo. É este um dos aspectos ocultos da sua obra bem como, para alguns, uma das manifestações do Ser não transportável para o domínio do cálculo, da explicação ou da medida. Por isto mesmo, há uma análise que se renega ante o pudor de nos reencontrarmos, na tímida desocultação da palavra escrita, com alguém cuja influência profunda marcou um tempo de aprendizagem, de chegada à luz, de momento pleno. Quando, certa vez, franqueei a porta do Instituto de Estudos Filosóficos para, muito juvenilmente, perguntar ao Doutor Miguel Baptista Pereira pelo significado do termo “έζαίφνης”, não sabia que a retumbância dessa palavra platónica me chegaria cadenciada pela sua própria voz, que hoje ressoa com a nitidez de algo a que não podemos chamar “passado” – porque realmente não chegou a passar. Tal é a experiência platónica de “έζαίφνης”, cujo significado remete à ideia de “momento pleno” que a formulação aristotélica de tempo numérico não pode conter. O sentido dessa palavra convoca o momento luminoso da transformação que, pela mão de alguns raros professores, é marca do peso insondável com que o Ser se oferece ao pensamento.
O ressoar dessa palavra grega, surgiu-me ao caminho quando hoje, quarta-feira, pelas 8 horas da manhã (hora exacta em que se iniciava a aula do “Doutor Miguel”), me noticiavam o desaparecimento desse mestre excessivo, desse génio impositivo de quem tive a sorte de ter sido aluno. Como modulação deste mesmo momento-pleno, como lembrou frequentemente Miguel Baptista Pereira, pensar(Denken) é também agradecer(Danken), numa dívida profunda para com aqueles cuja marca se pressente ainda no ensino de tantos outros. A última vez que o vi, em plena estação de Campanhã, foi esse mesmo assunto que evoquei, sem desconfiar que o seu aceno de assentimento era também o último que me endereçava em vida.
Marca inexorável do mistério do Ser, a morte é traumatismo profundo perante o qual todo o discurso emudece, ainda que refloresça como dádiva e esperança. Mudo, pois, ainda que reavivado pelo momento pleno em que a sua lição ressoou, sentimos hoje a morte de Miguel Baptista Pereira como assombrosa vertigem, instalada no interior do homem como intérprete nos caminhos do Ser.
Por isso mesmo, foi o próprio mistério insolúvel que lento e enternecido, extremo e contundente, caminhou hoje para o sepulcro, com ele levando um dos mais importantes vultos da Hermenêutica Filosófica deste século.
Para sempre o recordarei, έζαίφνης, como "mão que sempre se oculta quando dá" ou o dom do momento pleno que é o ensino do filosofar!
3 Comments:
Nós é que emudecemos, diante deste discurso emudecido.
Foi um privilegiado em privar com o Professor!
Belo post!
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