O nome é Nel, Lionel!
Começo por uma impressão pessoal, sem nenhum tipo de sustentação empírica. O Cancioneiro português oferece-nos, em página dourada, o famoso Malhão. Ora, segundo o mais elementar bom senso, a letra do malhão reza: “Comer e beber/ Passear na rua”, deixando de fora o “ó-de-rim-tim-tim”. Sem estatuto semântico, este elemento de fonética - ó-de-rim-tim-tim - é o momento em que a língua dança o fandango, limitando-se a associar a acção “comer e beber” ao mais contemplativo “passear na rua”. Esta pequena impressão introduz-nos ao nome “Lionel”.
Se o universo português está pejado de homens e mulheres a que chamamos “Nel” – do Monteiro à Ladeiras, passando pelos incontáveis “Neis” da nossa infância -, certo é que, a maior parte das vezes, o Nel é um adiamento de Manuel/a, sendo menos um diminutivo do que uma âncora pueril. Cedo os Neis crianças se convertem em Manueis maduros, estando o intermédio Manel reservado a um espaço informal que não deixa de pertencer ao território adulto. A excepção, o reduto da pobreza, da exclusão e da miséria surge quando vem à liça um outro estatuto de Nel: o Lionel.
A questão é que o Lionel nunca deixará de ser Nel. O “Lio” anterior não tem dignidade onomástica, sendo um elemento redondo o suficiente para ser apenas um preciosismo; o Lio de Lionel é uma espécie de ó-de-rim-tim-tim de Nel. E nada mais.
Conheci, na minha infância/adolescência, um Lionel, esse que, certa vez, no saudoso estádio das Antas, decidiu cuspir em ogiva ascendente na fila de acesso à superior norte. Com arte, ergueu o pescoço e, não ouvindo as nossas desesperadas preces – ó Nel... ó Nel... –, projectou uma abóbada de saliva para a multidão, tendo acertado num cidadão não identificado, do qual apenas se conhece o protesto: Eiiiiiiii! Seus filhos da p...” Imagino que este sortudo se chame Nel, também!
Muitos posts se fariam em torno de Nel, que não é todavia mera personagem do passado. É que o Nel, de quando em vez, por milagres da técnica, faz-me saber que está vivo. E manda-me, sem palavra alguma, uns mails com umas meninas de vastos dotes mamários. Muitas. Em muitas posições e ocupando vastamente todo o espaço da caixa do correio. É o Nel! É o Lionel! Que fazer à sua libido informática?
Sob pena de reforçar o estatuto do Nel (alargando o coro dos excluídos) seria inaceitável declarar o Nel como spam, como bizarro se tornaria o pedido de algum decoro cibernético. A solução impõe-se, imperativa: criar um g-mail reforçado só para o Nel, mesmo que ele não saiba ser o único que para ali envia mensagens.
Mas eis que, numa espécie de programa Novas Oportunidades, o Google compensa sustentadamente todos os Lioneis deste mundo, não permitindo a previsível palavra-passe no endereço criado: Nel, claro está. Com um número mínimo de seis dígitos, o código limita-nos a um único nome possível, digno e sem abreviatura, vasto e por extenso: Lionel.
Está reposta a justiça! Ó-de-rim-tim-tim... A informática como mais e melhor democracia!
Se o universo português está pejado de homens e mulheres a que chamamos “Nel” – do Monteiro à Ladeiras, passando pelos incontáveis “Neis” da nossa infância -, certo é que, a maior parte das vezes, o Nel é um adiamento de Manuel/a, sendo menos um diminutivo do que uma âncora pueril. Cedo os Neis crianças se convertem em Manueis maduros, estando o intermédio Manel reservado a um espaço informal que não deixa de pertencer ao território adulto. A excepção, o reduto da pobreza, da exclusão e da miséria surge quando vem à liça um outro estatuto de Nel: o Lionel.
A questão é que o Lionel nunca deixará de ser Nel. O “Lio” anterior não tem dignidade onomástica, sendo um elemento redondo o suficiente para ser apenas um preciosismo; o Lio de Lionel é uma espécie de ó-de-rim-tim-tim de Nel. E nada mais.
Conheci, na minha infância/adolescência, um Lionel, esse que, certa vez, no saudoso estádio das Antas, decidiu cuspir em ogiva ascendente na fila de acesso à superior norte. Com arte, ergueu o pescoço e, não ouvindo as nossas desesperadas preces – ó Nel... ó Nel... –, projectou uma abóbada de saliva para a multidão, tendo acertado num cidadão não identificado, do qual apenas se conhece o protesto: Eiiiiiiii! Seus filhos da p...” Imagino que este sortudo se chame Nel, também!
Muitos posts se fariam em torno de Nel, que não é todavia mera personagem do passado. É que o Nel, de quando em vez, por milagres da técnica, faz-me saber que está vivo. E manda-me, sem palavra alguma, uns mails com umas meninas de vastos dotes mamários. Muitas. Em muitas posições e ocupando vastamente todo o espaço da caixa do correio. É o Nel! É o Lionel! Que fazer à sua libido informática?
Sob pena de reforçar o estatuto do Nel (alargando o coro dos excluídos) seria inaceitável declarar o Nel como spam, como bizarro se tornaria o pedido de algum decoro cibernético. A solução impõe-se, imperativa: criar um g-mail reforçado só para o Nel, mesmo que ele não saiba ser o único que para ali envia mensagens.
Mas eis que, numa espécie de programa Novas Oportunidades, o Google compensa sustentadamente todos os Lioneis deste mundo, não permitindo a previsível palavra-passe no endereço criado: Nel, claro está. Com um número mínimo de seis dígitos, o código limita-nos a um único nome possível, digno e sem abreviatura, vasto e por extenso: Lionel.
Está reposta a justiça! Ó-de-rim-tim-tim... A informática como mais e melhor democracia!
5 Comments:
Ah!... Então são os do Nel aqueles mails que reencaminhas..
loooooooooool, bela posta!
ia pedir que dissesses aos teus amigos qual o username desse email de que já sabemos a password.
mas agora vejo que não é preciso: recebo todos esses emails quando o RPS mos reencaminha!
;o)
:) Eu gosto de o ler e de comentar...mas aqui não é fácil(tal não me impede, no entanto). Gostei da 1ª parte, quanto à 2ª ainda bem que não conheço o Lionel, nem ninguém que me reenvie os mails dele porque ou ia ficar deprimida com a comparação (e aqui estou a brincar, porque gosto de como sou) ou ia ter uma trabalheira em apagar esses mails todos.
O Nel da minha vida era irmão do Mingos e era um elemento do conjunto dos Manéis. Morreu em Custóias, de overdose.
Quanto ao Mingos, a última vez que o vi foi no café, aí por volta de 1987 ou 88. Trabalhava para a "Soares da Costa" no Iraque e ganhava então 600 contos por mês.
Vá lá! Não te queixes que cá na empresa é bem mais deprimente: é só spams a pastilhinhas azuis titulados por exemplo assim "why don't you enlarge your penis"!!!
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