A Questão MP3
Vejam o seu ar CR7, saído do suburbano T1 pago com ajuda do Porta 65. Apreciem-no a sair do Lote 8, do arruamento 4, a ajustar os tampões do mp3 aos já muito adornados ouvidos. No outro lado, está o janota trintão, vagamente yuppie que, após uma noite de zapping e de sonhos de holding, ajusta ao fato completo da Zara o fio do sofisticado ipod. Encontram-se no metro, abominam-se muito ligeiramente, até que a música lhes dissolve o convívio e lhes projecta as diferenças para o interior musical deles mesmos. Chamemos à lei que a situação ilustra a «questão mp3».
Convém não subestimar a «questão mp3». A verdade dos pedestres reconsidera-se quando o quotidiano se sonoriza, multiplicado por espaços de bandas sonoras infinitas. A questão mp3 converte a experiência colectiva da cidade numa espécie de dança privada; um delírio intermitente, pessoal e de ritmos diversos. Pela rua, pelo metro, no próprio local de trabalho, a música marca o tom, sem que saibamos verdadeiramente até que ponto alenta trabalhos para níveis de produtividade inatingíveis ao som de qualquer invasora telefonia. A questão mp3 e seus reflexos laborais, pessoais e sociais; a distância imensa entre o mp3 e o Walkman, que o Dimanche já explorou... tudo nos afirma a necessidade de não se subestimar a questão mp3.
Convém não subestimar a «questão mp3». A verdade dos pedestres reconsidera-se quando o quotidiano se sonoriza, multiplicado por espaços de bandas sonoras infinitas. A questão mp3 converte a experiência colectiva da cidade numa espécie de dança privada; um delírio intermitente, pessoal e de ritmos diversos. Pela rua, pelo metro, no próprio local de trabalho, a música marca o tom, sem que saibamos verdadeiramente até que ponto alenta trabalhos para níveis de produtividade inatingíveis ao som de qualquer invasora telefonia. A questão mp3 e seus reflexos laborais, pessoais e sociais; a distância imensa entre o mp3 e o Walkman, que o Dimanche já explorou... tudo nos afirma a necessidade de não se subestimar a questão mp3.
Em qualquer ponto da cidade, talvez uma canção escutada seja comum, e esteja ao mesmo tempo, e se cruze no mesmo espaço – e aproxime seres numa coincidência inusitada e secreta. Talvez a música estabeleça fios de comunicação que se tocam algures, sem que ninguém o saiba verdadeiramente. E aí estamos menos sós, mesmo que a música embale um percurso melancolicamente isolado, que cruza avenidas impessoais com a canção aconchegada ao ouvido. A solidão musical de quem, na compenetração do seu mp3, transporta timbres coincidentes para o lado nenhum onde a cidade anoitece.
7 Comments:
É um pequeno-grande aparelho, sem dúvida! Descobri grandes álbuns nas muitas viagens na UTC para a Invicta!
Mas cuidado com os ouvidos, fora de tanga.
Tenho (temos) pensado nesta "questão" ultimamente, vê-se muita (toda a) gente por aí com os apêndices, mas atenção à praga. A praga do ruído por todo lado, tão bem alertada por António Barreto num público de um Domingo do mundo. E à praga dos telemóveis com som que começa a grassar e a incomodar. Ao menos os TEUS headphones só dão cabo dos TEUS ouvidos.
este post é bem musical, caro Phil!
:o)
TZL, é verdade, ao contrário da Praga do tabaco que também dá cabo dos pulmões de quem não tem culpa nenhuma.
Não uso. Não entendo porque não os proibem. Acho que no Metro as pessoas deviam ir a conversar umas com as outras.
soube-me a pouco!
isso é que é um observador participante!
muito bom!
[e agora vou em bora que vi ali um taxi, o primeiro da fila... e pode ser o outro, não o que gosta de Mozart...]
bom fim semana
e, o último da fila...então, só o vi agora! é da escola do Frof. Funes...um horror... fundamentalistas é o que é! :)
hoje em dia não se ouve música. é consumido de forma ordeira e sistemática um conjunto de lixo sónico sem valor...assim mp3 = 0
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