Iliteracias sexuais: Em prol de Policarpo
Classificações são classificações, ponto. Quando se classifica, dessitua-se, absolutiza-se, descircunstancializa-se, três neologismos classificatórios (outro!) e finais. Ponto. Rumino este preceito quando, em Espanha, abro o jornal espanhol e entro nas páginas dos classificados, com os seus anúncios de insolvências, de falências, de bancarrotas e de leilões – crise, classifica-se em síntese, crise global e epidémica em tempos de infinita equiparação de fronteiras. Até que se chega aos “contactos”, ou seja, aos anúncios de sexo – e aqui, uma espécie de apartheid põe-se em evidência, com uma certa dose cruel de curioso desconcerto.
É que as «performances» estão codificadas justamente por atribuições (abusivas, suspeito) de nacionalidade, completamente opacas para alguém que sofre de iliteracia sexual; o que será, sexualmente falando, um «francês», um «grego», especialidades recorrentes no jornal espanhol que folheio?! Os anúncios desta natureza passam por ser uma espécie de jogos sem fronteiras, em que uma menina oferece «grego», disputando território com uma outra que oferece «francês». Por vezes a coisa complica-se e o enigma adensa-se, seja no qualificativo do francês («profundo») seja no tom (insultuoso?) do grego («a quatro patas»). Noutras ocasiões, a confusão desdobra-se num jogo mestiço, quando uma «menina galega» oferece francês, uma chinesa sugere grego e uma cubana apregoa francês e grego – é um caldo de Línguas (sublinho a maiúscula) que nos faz suspeitar que, em espanhol, o sexo é uma algaraviada ou, sendo tautológico, uma intraduzível espanholada. Será culpa dos bascos?
Mas como não há bela sem senão, percebo melhor, agora, o nosso pseudo-papa, no seu alerta face aos casamentos entre mulheres indígenas e homens muçulmanos. Não se trata de Religião, mas de língua, em territórios em que as consumações se transviam, se digladiam, se intercedem. Quando um grego não vem necessariamente da Grécia, quando um francês não traz passaporte europeu, mas a marca de Sodoma e Gomorra, como traduzir universalmente o Kama-Sutra (indiano) em prol, já se sabe, da proliferação da pecaminosa espécie humana, sem pecar em prazeres desconhecidos e – valha-nos dEUS! – intraduzíveis?! Como qualquer Policarpo-papa que se preze é poliglota, e dado que, curioso como qualquer cura, lê os classificados, tudo se justifica. Desclassifique-se a miscigenação linguística, como qualquer coisa de orgiástico, e oremos nos nossos próprios classificados e nas nossas próprias classificações, não se dê o caso de um belo dia, num inocente café, pedirmos uma francesinha e sair-nos gato por lebre. Esconjuro!
5 Comments:
Não lhe posso valer. Também sofro de ileteracia sexual. Só sei o que é uma espanholada.
Além disso, não falo com apoiantes do Hamas.
LOL Philósofe! Grande posta!
Espanholada, francês, tá controlado!
Agora grego... ?!
Ora, para dizer em Francês (e não NO francês)... au point. :-)
lololololol!!!!!!!!!!
Sarava!
E com estas e outras não esperava:)
E também eu me confesso uma completa iliterada sexuaal!
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