segunda-feira, junho 19, 2006

Reflexão de tasco

Responder à mais quotidiana das questões conduz-nos, por vezes, ao mais lodoso e evitável domínio dos equívocos. Por isto mesmo, consciente da função propedêutica, cívica, performativa que Pacheco Pereira atribui à blogosfera, aqui deixo o meu humilde contributo, não sem antes agradecer a inspiração da filosofia analítica e da moca de sono, que me proporcionaram a elaboração deste post.

Comecemos por uma questão que, como todo o exercício de verdadeiro e virtuoso questionar, pede uma resposta clara e definitiva. Seguidamente, atentemos na resposta, procurando libertá-la do emaranhado dos erros e da floresta insondável da confusão… Ora com a vossa licença, aqui vai disto:

- Zezinho, gostas mais da mamã ou do papá?

Resposta proverbial do Zezinho:

- Eu pessoalmente gosto mais do papá…

A verdade é que a palavra "pessoalmente" emaranha todo o conteúdo da sentença no mais reticente dos sentidos. Repare-se que se o Zézinho afirma, na sua inocência infantil, que pessoalmente gosta mais do papá, nada garante que socialmente não goste mais da mamã (principalmente se o papá tem a mania de cuspir ou de se coçar ou de palitar os dentes com a haste do chupa do Zezinho).

O exemplo é transportável para todos os planos do discurso, podendo eu pessoalmente preferir o vinho à cerveja, apesar de socialmente beber Whisky, mau grado politicamente preferir vodka, não obstante axiologicamente enveredar pelo capilé, sem que isso impeça a que eticamente opte pelo Joy laranja.

Dado o exemplo e palidamente definidas as dimensões do problema, não resisto a adiantar um corolário:

Às pessoas que, por tudo e por nada respondem que pessoalmente preferem o isto ao aquilo, eu gostaria, pessoalmente, de as passar sem dó nem piedade ao lança-chamas, se bem que politicamente isto não seja defensável, nem socialmente desejável, nem antropologicamente sustentável, nem… Já agora, esta sentença é extensível a quem me inspirou este post, excluída a moca de sono que, por ser minha e por ser indelegável, implicaria a incineração desta criatura que aqui escreve, facto que em nada beneficiaria a auto-estima e a integridade corporal que me esforço, pessoalmente, por manter.

Tenho dito!

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu, pessoalmente, do que gosto mesmo, mas MESMO, não devo axiologica, politica, etica, antropologica, social, principial e mais que viermente dizer.
Irra, valha a jurídica normação que mo autoriza em desdém!

10:46 da tarde  
Blogger Fabiana said...

Ainda não é desta que me podes "passar sem dó nem piedade ao lança-chamas" ;)

12:52 da tarde  
Blogger redonda said...

:):) não estava nada à espera do lança-chamas...fez-me rir :)

1:32 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home


referer referrer referers referrers http_referer