Reflexão de tasco
Responder à mais quotidiana das questões conduz-nos, por vezes, ao mais lodoso e evitável domínio dos equívocos. Por isto mesmo, consciente da função propedêutica, cívica, performativa que Pacheco Pereira atribui à blogosfera, aqui deixo o meu humilde contributo, não sem antes agradecer a inspiração da filosofia analítica e da moca de sono, que me proporcionaram a elaboração deste post.
Comecemos por uma questão que, como todo o exercício de verdadeiro e virtuoso questionar, pede uma resposta clara e definitiva. Seguidamente, atentemos na resposta, procurando libertá-la do emaranhado dos erros e da floresta insondável da confusão… Ora com a vossa licença, aqui vai disto:
- Zezinho, gostas mais da mamã ou do papá?
Resposta proverbial do Zezinho:
- Eu pessoalmente gosto mais do papá…
A verdade é que a palavra "pessoalmente" emaranha todo o conteúdo da sentença no mais reticente dos sentidos. Repare-se que se o Zézinho afirma, na sua inocência infantil, que pessoalmente gosta mais do papá, nada garante que socialmente não goste mais da mamã (principalmente se o papá tem a mania de cuspir ou de se coçar ou de palitar os dentes com a haste do chupa do Zezinho).
O exemplo é transportável para todos os planos do discurso, podendo eu pessoalmente preferir o vinho à cerveja, apesar de socialmente beber Whisky, mau grado politicamente preferir vodka, não obstante axiologicamente enveredar pelo capilé, sem que isso impeça a que eticamente opte pelo Joy laranja.
Dado o exemplo e palidamente definidas as dimensões do problema, não resisto a adiantar um corolário:
Às pessoas que, por tudo e por nada respondem que pessoalmente preferem o isto ao aquilo, eu gostaria, pessoalmente, de as passar sem dó nem piedade ao lança-chamas, se bem que politicamente isto não seja defensável, nem socialmente desejável, nem antropologicamente sustentável, nem… Já agora, esta sentença é extensível a quem me inspirou este post, excluída a moca de sono que, por ser minha e por ser indelegável, implicaria a incineração desta criatura que aqui escreve, facto que em nada beneficiaria a auto-estima e a integridade corporal que me esforço, pessoalmente, por manter.
Tenho dito!
3 Comments:
Eu, pessoalmente, do que gosto mesmo, mas MESMO, não devo axiologica, politica, etica, antropologica, social, principial e mais que viermente dizer.
Irra, valha a jurídica normação que mo autoriza em desdém!
Ainda não é desta que me podes "passar sem dó nem piedade ao lança-chamas" ;)
:):) não estava nada à espera do lança-chamas...fez-me rir :)
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