Su Doku
Comecemos por uma distinção: não fazer nada não é mesmo que não fazer nenhum. Chamamos “não fazer nada” a uma relação passiva e morta com o tempo, invadidos pela seca e golpeados pelo aguilhão da chatice; já o “não fazer nenhum” é uma arte vastíssima, a que só o saber dos mais perfeitos manguelas tem acesso. Quando estamos no trânsito, num autocarro em hora de ponta ou nas longas filas das repartições, podemos dizer com propriedade que não estamos a fazer nada. Quando nos prostramos numa praia tropical, a braços com uma bebida exótica e entregues aos cuidados dos mais diligentes profissionais do lazer, aí só podemos estar a não fazer nenhum…
Tem sido luta constante das mulheres e homens de todos os tempos a obtenção da fórmula alquímica que verta o não fazer nada num regenerador não fazer nenhum. Assim surge o tele-lixo, os jogos de computador e, dum modo geral, os passatempos. Em meados dos anos 80, incautos comercializaram um objecto ao qual chamaram “cubo mágico”, visando capar os tempos mortos e fazer proliferar as horas de ócio. Rejubilaram quando uma febre se apoderou do planeta, que passou a falhar estações de metro ou paragens de autocarro numa estranha disposição de pintalgar de uma única cor cada face desse rotativo poliedro. Esses incautos julgaram ter encontrado a fórmula, mas falharam! Se o cubo aparentava cumprir a função, a verdade é que ocupava espaço – no bolso ou na carteira – podendo mesmo ocorrer a quem o transportasse que estaria a ter (Oh, horrorosa palavra que aí vem!) trabalho ao transportá-lo. Ora, se tenho que trabalhar, é óbvio que não estou a não fazer nenhum – e lá se vai a lógica do cubo!
Já as palavras cruzadas são exercícios volúveis, como volúvel é a natureza das palavras. Impossível não fazer nenhum com o seu corpo sinuoso… Só os números contêm a pitagórica perfeição que giza a tarefa de não se ter qualquer tarefa. E refulge, hoje, a perfeição do universo na desarmonia fonética desse estrangeirismo: Su Doku.
É poroso, daí que se insinue por todos os lugares, sem que ninguém o transporte propriamente; é jeitosinho, chegando a ser compatível com os mais tremedores e desajeitados tripulantes do Bus das 18.30; é discreto, cabendo em qualquer reunião ou beberete. Não se ficando por estas inegáveis qualidades, o Su Doku – oh, felicidade! – não serve para rigorosamente nada, e por isso proporciona a nobre conquista de não se fazer nenhum. Desde que alguém me ensinou a lidar com ele, nunca mais fiz outra coisa, e pude redefinir-me aos olhos de toda a gente: em vez de um desocupado, sou agora um calaceiro!
Por estas razões e as mais que aqui se omitiram, elevo o Su Doku a passatempo nacional, com a oculta convicção de que não há órgão de soberania que o dispense, discreto e abandonado à madeira vetusta da bancada parlamentar.
Tem sido luta constante das mulheres e homens de todos os tempos a obtenção da fórmula alquímica que verta o não fazer nada num regenerador não fazer nenhum. Assim surge o tele-lixo, os jogos de computador e, dum modo geral, os passatempos. Em meados dos anos 80, incautos comercializaram um objecto ao qual chamaram “cubo mágico”, visando capar os tempos mortos e fazer proliferar as horas de ócio. Rejubilaram quando uma febre se apoderou do planeta, que passou a falhar estações de metro ou paragens de autocarro numa estranha disposição de pintalgar de uma única cor cada face desse rotativo poliedro. Esses incautos julgaram ter encontrado a fórmula, mas falharam! Se o cubo aparentava cumprir a função, a verdade é que ocupava espaço – no bolso ou na carteira – podendo mesmo ocorrer a quem o transportasse que estaria a ter (Oh, horrorosa palavra que aí vem!) trabalho ao transportá-lo. Ora, se tenho que trabalhar, é óbvio que não estou a não fazer nenhum – e lá se vai a lógica do cubo!
Já as palavras cruzadas são exercícios volúveis, como volúvel é a natureza das palavras. Impossível não fazer nenhum com o seu corpo sinuoso… Só os números contêm a pitagórica perfeição que giza a tarefa de não se ter qualquer tarefa. E refulge, hoje, a perfeição do universo na desarmonia fonética desse estrangeirismo: Su Doku.
É poroso, daí que se insinue por todos os lugares, sem que ninguém o transporte propriamente; é jeitosinho, chegando a ser compatível com os mais tremedores e desajeitados tripulantes do Bus das 18.30; é discreto, cabendo em qualquer reunião ou beberete. Não se ficando por estas inegáveis qualidades, o Su Doku – oh, felicidade! – não serve para rigorosamente nada, e por isso proporciona a nobre conquista de não se fazer nenhum. Desde que alguém me ensinou a lidar com ele, nunca mais fiz outra coisa, e pude redefinir-me aos olhos de toda a gente: em vez de um desocupado, sou agora um calaceiro!
Por estas razões e as mais que aqui se omitiram, elevo o Su Doku a passatempo nacional, com a oculta convicção de que não há órgão de soberania que o dispense, discreto e abandonado à madeira vetusta da bancada parlamentar.
14 Comments:
subscrevo-te, palavra a palavra.
logo eu, viciada nisto :)
Nunca experimentei. Fiquei com vontade - para "não fazer nenhum". :-)
Em Inglaterra o sucesso foi tal que o implementaram nas escolas... No seguimento do Su Doku, podes optar também pela última loucura em jogos vinda do Japão: o Kakuro.
O problema do Su Doku é que, salvo erro, aquilo não tem lógica nenhuma. Isto é, não há nenhum algoritmo capaz de estabelecer caminhos racionais de resolução dos problemas. É tudo pelo método da tentativa e erro.
Se assim é (li que era, nunca fiz nenhum), isso retira toda a graça ao exercício.
Não é assim, Funes. Na verdade, o Su Doku é como os policiais: se não dá as armas para a sua resolução, então é porque está mal feito...
Funes, é falso, qualquer SUDOKU que vem com o seu costumado Público é resoluvel sem falsas "tentativas" e, na maior parte das vezes, sem riscos nem notas nas margens das quadrículas.
Luisinha, é um exagero, esse jogo não tem nada de matemático, que o diga Funes, que gosta de matemática.
Sim, o KAKURO é bem engraçado...
... fica pelo vício dos sopranos: a melhor da forma de não fazer nenhum!
o Su Doku não foi implementado nas escolas por causa da matemática, mas porque este jogo ajuda o desenvolver o raciocínio e concentração, segundo os entendidos. ;)
Confesso que só tentei duas vezes este novo desporto nacional e os resultados foram um desastre... Os meus dois neurónios deviam estar de greve em ambas as situações...
Hoje estreei-me nesta mangna arte de "não fazer nenhum". Fiquei fã! Para não dizer que estou viciada (ainda estou na fase da negação). :-)
isto é que é não fazer nenhum... post!
Tornem-se comentadores habituais do blog mais critico e polémico da blogosfera e tenham a honra de deixar marca na mítica frase do mês!
Os vossos comentários contam e nós contamos com eles.
Bem, isto já não é "fazer nenhum". É "fazer nada" pelo blog! :-)
Se bem me lembro o meu melhor tempo com o cubo mágico foi de 1 minuto e 15 segundos (nem percebo como é possível fazê-lo apenas em segundos). Tenho um em casa e outro em lugar de trabalho e de vez em quando ainda o faço para não me esquecer. Com o "Su Doku" estive viciada há cerca de um ano e por alguns meses, mas depois passou-me :)
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