Interacções 3 - O Pinto
Na gíria estudantil há todo um bestiário, que faz conviver divindades sapienciais com indómitos animais e sacrílegas feras. Em Coimbra, a Cabra marca o passo à passagem das horas. Obedecer ao seu toque pode evitar a incursão da Raposa (o chumbo), animal que, de tão odiado, se esbateu de certo azulejo da Faculdade de Direito, tratado a pontapés pelo estudante ansioso. Evitar a Raposa podia anunciar uma temporada sem sebentas (em toda a sua “porca” conotação), evitando-se os actos macilentos típicos dos ratos de biblioteca.
Convive então a Cabra com a Raposa, conjugam-se os porcos com os ratos, sem excluir, todavia, o mais altaneiro destino de Minerva (que em Coimbra se dotou de umas escadas para, com o auxílio de sorte e algum engenho, facilitar o seu alcance) ou as Vias Latinas de sábios e expeditos encontros. Aqui, como Eça pôde afirmar, davam-se ao convívio essas “tricanas feitas Ofélias”, combinando-se assim a volúpia carnal com o incêndio dos olhos sonhadores. Deuses e animais matizavam, em hesitação permanente, em luta de contrários, em maturação dialéctica, o dia-a-dia e as expiações do viver estudantil. E de permeio havia o Pinto!
O Pinto era um tasco mais do que um apelido, um apelido mais do que um animal. Seria o único Pinto susceptível de gerar a Raposa e, talvez, o único Pinto capaz de transviar as horas da Cabra em segundos de cabrito. As jornadas do Pinto representavam a sã convivência entre os monstros da animosidade académica e as seráficas visões dos saberes supra-mundanos, local de convívio entre a sebenta e a bifana, com o mesmo sabor e o mesmo óleo antigo e abundante. No Pinto transpunha-se a mais queirosiana Coimbra, de saberes noviços alheados da torre espectral da Universidade, que se o reitor não vai com duas loas, sai um traçado, duas guitarradas e a raposa insinuante celebra a nova geração dos saberes com a renovada Palas, que irradia dos corações juvenis. E Minerva comparece, e a Cabra desanda ponteiros - que o Pinto era concílio de deuses e animais, circo de pantomina e da "pândega idealista" de que Eça falou, condimentada com "sal divino" e esfarelada em "migalhas de metafísica e de estética"...
Assim o tasco! Assim o Pinto!
A Antero atribui-se a profecia segundo a qual a Universidade só iluminará o povo quando a incendiarmos. Esta citação é frase de algibeira de muitos espíritos, de onde a luz só brotará quando tiverem o mesmo destino da renegada Alma Mater do autor das Odes Modernas… Infelizmente, nem todos são cremados, e a mais desoladora penumbra torna-se o mais inevitável e exclusivo dos destinos de tantos. Que o Pinto os ilumine, congregando deuses e bestas num mesmo pantagruélico espaço. É este o destino do tasco que, em Coimbra, é tantas vezes o lugar mais brindado (literalmente) pelo espírito do cosmopolitismo.
Convive então a Cabra com a Raposa, conjugam-se os porcos com os ratos, sem excluir, todavia, o mais altaneiro destino de Minerva (que em Coimbra se dotou de umas escadas para, com o auxílio de sorte e algum engenho, facilitar o seu alcance) ou as Vias Latinas de sábios e expeditos encontros. Aqui, como Eça pôde afirmar, davam-se ao convívio essas “tricanas feitas Ofélias”, combinando-se assim a volúpia carnal com o incêndio dos olhos sonhadores. Deuses e animais matizavam, em hesitação permanente, em luta de contrários, em maturação dialéctica, o dia-a-dia e as expiações do viver estudantil. E de permeio havia o Pinto!
O Pinto era um tasco mais do que um apelido, um apelido mais do que um animal. Seria o único Pinto susceptível de gerar a Raposa e, talvez, o único Pinto capaz de transviar as horas da Cabra em segundos de cabrito. As jornadas do Pinto representavam a sã convivência entre os monstros da animosidade académica e as seráficas visões dos saberes supra-mundanos, local de convívio entre a sebenta e a bifana, com o mesmo sabor e o mesmo óleo antigo e abundante. No Pinto transpunha-se a mais queirosiana Coimbra, de saberes noviços alheados da torre espectral da Universidade, que se o reitor não vai com duas loas, sai um traçado, duas guitarradas e a raposa insinuante celebra a nova geração dos saberes com a renovada Palas, que irradia dos corações juvenis. E Minerva comparece, e a Cabra desanda ponteiros - que o Pinto era concílio de deuses e animais, circo de pantomina e da "pândega idealista" de que Eça falou, condimentada com "sal divino" e esfarelada em "migalhas de metafísica e de estética"...
Assim o tasco! Assim o Pinto!
A Antero atribui-se a profecia segundo a qual a Universidade só iluminará o povo quando a incendiarmos. Esta citação é frase de algibeira de muitos espíritos, de onde a luz só brotará quando tiverem o mesmo destino da renegada Alma Mater do autor das Odes Modernas… Infelizmente, nem todos são cremados, e a mais desoladora penumbra torna-se o mais inevitável e exclusivo dos destinos de tantos. Que o Pinto os ilumine, congregando deuses e bestas num mesmo pantagruélico espaço. É este o destino do tasco que, em Coimbra, é tantas vezes o lugar mais brindado (literalmente) pelo espírito do cosmopolitismo.
(Para a SLM)
6 Comments:
muito bem.
só faltou dizer que foi a SLM que te pediu esta interacção!
É verdade! Este post é dedicado à nossa SLM!
Viva o Pinto!
Patriot!!!!Bons velhos tempos!
Eu sabia que este tema (Coimbra no geral, tascas no particular) daria grande post!
Thx proféssor!
o pinto era uma bosta!!!
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