Esclarecimento
Ao meu post de 6/12/2006, o Funes presenteia-me com a resposta que a seguir se transcreve:
«Pois eu, Senhor Aristóteles, acredito nos actos performativos.Ainda ontem estive na Assembleia Geral de determinada sociedade e o Presidente da Mesa, a certa altura disse:- está encerrada a sessão!As pessoas continuaram a discutir, mas a sessão estava encerrada e o Presidente foi-se embora. Tinha dito que estava encerrada a sessão e a sessão ficou encerrada, porque ele o disse.Ora, eu estou absolutamente convencido que, ao contrário do que V. Ex.ª afirma, isto também funciona com o ar condicionado.Experimentou V. Ex.ª virar-se para o aparelho e dizer, p. ex.: "está a temperatura absolutamente ideal!"?Tenho a certeza que não experimentou. E depois vem para aqui dizer mal do aparelho.Mas se, porventura, experimentou e não resultou, também não pode acusar a máquina, mas a sua falta de fé. Se tivesse dito com suficiente convicção teria resultado e sentir-se-ia logo quentinho. Neste último caso, só posso recomendar-lhe a visita a uma catedral da fé (a do vale Formoso, p, ex.), para fazer a corrente do ar condicionado.»
Para além de aludir a alguns elementos de mecânica de funcionamento do universo que, a meu ver, devem ser referidas entre os irmãos da confraria e não nas páginas públicas de um blogue, este comentário ainda atribui à minha pessoa um comportamento céptico, ou mesmo ateísta, que não corresponde à realidade. Entendo, por isso, responder em post próprio.
O amigo Funes, que não gosta de Eduardo Lourenço, acaba por reproduzir sem querer um episódio protagonizado pelo ensaísta, denunciando assim, para grande transtorno dos "funestos", uma mundividência comum ao Corifeu luso. Diz-se que certa vez, quando o carro se lhe avariou em plena viagem, Eduardo Lourenço pedia constantemente ao carro para se portar com juízo, como “carrinho lindo” que era. Depois de interpelar a viatura, justificava o seu acto com um dito sibilino: “É preciso não deixar de acreditar no lado mágico das coisas”. Também eu tenho a minha fé privada, mas não tão optimista. Por acreditar que o universo age caprichosamente ao contrário do que desejo, tento pedir às coisas para agirem ao contrário do que é conveniente. Resultou até dada altura só que, agora, os deuses já toparam o esquema e cismam em me obedecer, para meu desagrado.
Daqui se conclui que a solução do Funes é totalmente ineficaz!
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